A
Importância do “Olhar Habilidoso”
A forma de pertencimento, da ação e
interação, nos torna capaz de nos situar, encontrar a nossa personalidade e
posicionamento. Não por imposição, mas, por despertarmos, através de diálogos e
manifestações, que nos ligam a pessoas com as quais compartilhamos da mesma
cultura.
A habilidade da leitura e interpretação dos
objetos e fenômenos culturais amplia a nossa capacidade de ver e compreender o
mundo. Cada produto da criação humana, utilitário, artístico ou simbólico, é
portador de sentidos e significados, cuja forma, conteúdo e expressão devemos
aprender a ler e traduzir.
Uma canção folclórica, por exemplo, não pode ser tocada mais ela está cheia de
sentimentos, referências culturais e identitários, remetem ao passado para o presente ao mesmo tempo.
O
olhar nada mais é que o
resultado de uma empreitada de desvendamento de quem lê o mundo através da
cultura, aqui pensada no sentido antropológico, como uma lente através da qual
o homem atribui sentido às coisas e a si próprio, como sugere Roque de Barros
Laraia. E aqui nos encontramos frente a frente com alguns desafios. Olhar o
mundo através da Antropologia, é um duplo exercício: primeiro porque exige o
reconhecimento das universidades e singularidades do ser humano, segundo,
porque, não há possibilidade maior de nos revemos, que através do outro. Mas
relativizar, desenvolver um olhar relativizador não é um ato religioso ou
ideológico, apesar de exigir fé e convicção. É antes de tudo uma postura
ética/conceitual, que se recusa descontextualizar as ações e os gestos do
homem, mesmo que reconhecendo invariáveis de seu comportamento por acreditar
que tudo é mais uma questão de posição e de relações. Assim é o olhar do antropólogo. A superação da
contemplação anestesiada do mundo, mas também a superação do centramento
excludente em suas próprias verdades.( BARROS, José Márcio,
2 ou 3 questões sobre o olhar).
Falando Sobre Algo
Dentro
dessa linha de pensamento, cito a pesquisa feita por Clifford Geertz. Em: Briga
de Galos/Bali. Para quem nunca ouviu falar e/ou nunca leu, peço desculpa,
porém, serve como incentivo para que procurem. Não para ser um estudioso a altura, mas sim,
por dá ênfase a questão da interpretação, abdicando dos próprios conceitos, e
procurar entender e compreender a razão das diversas culturas, diferentes do
mundo no qual faz parte.
Um
estudo minucioso e bastante enriquecedor feito por Geertz, adentrando sobre a
vida dos balineses em todos os aspectos, guiado por um símbolo cultural.
Inquestionável
a referência que a briga de galos tem para o povo de Bali, tendo a própria como
parte do seu Patrimônio Cultural: material, como o local onde é realizado o
combate e toda sua conjuntura tangível e o imaterial que é o sentido atribuído
para aquela prática que tem os galos como protagonistas e os seus donos que se
vêem no próprio animal.
Observo
a pesquisa feita por Geertz como uma leitura sobre o povo de Bali, leitura essa
concernente a um símbolo que é a Briga de Galos, a questão de olhar e ler o
que lhe o atrai. Foi à missão de Geertz,
que se debruçou sobre a disputa entre galos, sendo em Bali, evento inerente a
todo contexto social, os modos como os balineses se relacionam com os galos, tendo
essa prática cultural como sua cultura identitária.
Os
balineses com muita honra têm a Briga de Galos como uma grande e significante
atração coletiva, perpetuando essa tradição, mantendo viva a cultura espelho de
sua sociedade, a cultura que referencia seu povo.
Diante
disso, vejo a importância de prestarmos à atenção para aquilo que nos chama,
seja lá qual for à razão, aprender a ler e decodificar, não é necessário título
para isso, é preciso aguçar a capacidade de observação, respeitando sempre a
cultura do outro, para que a nossa também seja respeitada.
MARCOS PAULO CARVALHO
LIMA
Graduando em
História
Universidade
Federal de Sergipe